Parentes de militares cobram mudanças no Exército: ‘Parem de matar nossos meninos’

Famílias de militares denunciam riscos excessivos nos saltos da Operação Saci 2025. Dois novos feridos em Mozarlândia reacenderam a revolta.

Parentes de militares cobram mudanças no Exército: ‘Parem de matar nossos meninos’

A morte do soldado Leonardo Cristia Silva da Cunha, de 23 anos, durante um treinamento da Brigada de Infantaria Paraquedista em Mozarlândia, oeste de Goiás, e o acidente envolvendo outros dois militares na última sexta-feira (30), continuam provocando indignação entre familiares, amigos e internautas. Nas redes sociais, aumentam os pedidos por mudanças urgentes nos protocolos adotados pelo Exército Brasileiro durante a Operação Saci 2025.

“Eles vão ter que matar mais quantos para acabar com esse treinamento?”, questionou um parente de outro militar. “Parem de matar nossos meninos em treinamentos”, reforçou em outro trecho da publicação.

Durante o salto de sexta-feira, os paraquedas de dois soldados se embolaram no ar, e eles não conseguiram acionar o equipamento corretamente. Ambos foram socorridos e levados para exames, com estado de saúde estável, segundo o Exército. O caso ocorreu três dias após a tragédia que matou Leonardo e deixou outros dez feridos.

 

“Tiraram o nosso menino”

Leonardo foi homenageado por parentes nas redes sociais. A irmã do militar escreveu: “Ele era um homem de família, era um orgulho. Tiraram o nosso menino”. Já uma prima desabafou: “Meu coração está doendo, irmão, por não estar ao seu lado nos últimos minutos. Só você e Deus sabem o que sentiu naquele momento”.

Leonardo participava do exercício militar em conjunto da Brigada de Infantaria Paraquedista e da Força Aérea Brasileira (FAB), ao lado de cerca de 300 militares. Durante o salto, ele caiu em uma represa e teria se afogado, segundo informações preliminares. A causa oficial da morte será confirmada pelo Instituto Médico Legal (IML). Ele era casado e tinha um filho.

 

O luto, segundo os familiares, também se mistura com dúvidas e indignação. “O que estamos sabendo não é o que queremos saber, e sabemos que tem verdades a serem descobertas”, escreveu uma amiga da família. “Meu irmão morreu, ele foi embora, mas salvou a vida de um amigo de farda”, acrescentou uma parente próxima.

“Nossos filhos não são cobaias”

Uma mãe que tem o filho entre os militares em treinamento também se manifestou pelas redes sociais pedindo providências do Exército e do Comando Militar do Leste (CML): “Os jovens não podem ser usados como cobaias nesses treinamentos, é um absurdo.”

Uma enfermeira que já atendeu alguns militares após acidentes, relatou as condições em que eles chegam à UTI. “Os meninos chegam cabisbaixos, com medo até de responder. Famintos, desidratados, cheios de hematomas. Um deles, que já atendi algum tempo atrás ficou dependente de hemodiálise”, afirmou. “Acho que tem coisas desnecessárias nesses treinamentos. Isso merece investigação”, completou.

De acordo com uma fonte que não quis ser identificada, a última etapa da Operação Saci é considerada a mais crítica. “Nessa fase, o número de paraquedistas saltando é bem maior e a zona de lançamento é mais curta do que a usada nos treinamentos no Rio de Janeiro. Fora que é um terreno desconhecido, o que aumenta ainda mais o risco de acidentes.”

Exército mantém silêncio

Até o momento, o Exército não divulgou novas informações sobre as causas dos acidentes. O Mais Goiás solicitou esclarecimentos ao Comando Militar do Leste, responsável pela Brigada de Infantaria Paraquedista, e aguarda retorno.

A Operação Saci 2025 segue em andamento em diferentes regiões do estado de Goiás e está prevista para ser concluída no próximo dia 6 de junho.